17 de junho de 2008

As histórias que seguem fazem parte das intervenções realizadas no Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

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Prefiro que me chamem de Rebeca.
Tenho 19 anos, mas comecei cedo nesta vida, precisei.
Aos 10 anos percebi que gostava de meninos, queria usar saias... Claro não podia, que vergonha era pro meu pai! Com 14 anos, meu pai disse que até podia ser maricas, bicha, mas sem vergonha não! Para ele não dava pra eu ser menina!
Sai de casa e fui morar com uma amiga travesti, ela era feliz, tinha 20 anos e podia usar a roupa que queria, ganhava dinheiro trabalhando na rua de noite.
Assim faço minha vida, pago para que possa me vestir do jeito que quero, pago para usar de um espaço que dizem ser público, mas que não é meu, pago para realizar desejos dos outros, mesmo assim, só não posso amar quem quero!
Não falo com meus pais há cinco anos, me fazem falta, mas sou uma vergonha para eles!
Alguém disse que “sou gente e tenho direito”, mas mesmo assim não posso amar quem quero!

Quero ser gente e ter direitos, desejos e ter toda a forma de amor!

*Texto Graziela ** Intervenção com bonecos realizada no Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

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A rua é um lugar que posso fazer o que quero,
me viciei em drogas aos 11 anos, tenho que troca favores por drogas e comida, pra dormir agente dorme em qualquer lugar mesmo...
Zé do Ponto é quem cuida da gente, o que ele marca agente vai e faz, os caras pagam pra ele, ele fica com parte da grana a outra parte fica pra mim, dá pra eu comprar comida e droga.
Viver pra mim é isso, minha mãe não cuidou de mim, alias nem dela, morreu de AIDS, não tem muita coisa pra mim nessa vida, por isso vivo assim, não sei até quando, mas vivo assim, posso morrer, mas também posso viver, quem sabe disso não sou eu...
Só sei que quem cuida de mim é seu Zé, é ele quem decide até quando posso ficar aqui, faço tudo pra que ele deixe eu ficar aqui...
Não sei o que é amor, sei o que é dor, sei que dói muito, me machuca, mas é assim que sei viver!
Pode ser de outro jeito?
*Texto Graziela ** Intervenção com bonecos no Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

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Estou com muito medo do que vai ser agora.
Estou no abrigo desde que meu pai foi preso por mexer comigo, eu tinha 13 anos. Minha mãe morreu doente, fiquei sozinha com meus irmãos e meu pai, não era bom, meu pai não é bom comigo, entendi que não é culpa minha ele estar preso.
Desde que eu brincava de não podia falar, mas meu pai gostava de brincar de boneca comigo, ele era legal, brincava horas enquanto minha mãe trabalhava, mas agente nunca podia contar pra ela o que a boneca fazia.
Me sentia mentindo pra minha mãe, queria que ela brincasse também, meu pai não deixava. Meu pai gostava de mim...
Um dia a noite depois de todo mundo dormir ele queria brincar comigo, mas eu não queria mais, a boneca estava chata, pedi para não brincarmos, eu estava com sono, foi quando minha mãe abriu a porta e meu pai bateu nela.
Ela não falou comigo, me senti mal, mas ela não falou mais com ninguém em casa, tive que vir pra cá e ela morreu. Sinto falta e queria pedir desculpas a ela.
Tô com medo de sair daqui, não quero casar, nem ter filhos, vou ser sozinha agora, não quero ninguém cuidando de mim, não vou casar, não vou ter filhos, não sei o que vou ser.

*Texto Graziela **Texto da Intervenção no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

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Interior do Nordeste. Sertão Nordestino.
Vidas secas. Vida árida.
Vida de Édinho: 5 anos, 5 secas, vida de fome.
Irmão caçula de 7 filhos.
Viu três irmãs serem levadas para "uma vida melhor" na cidade grande. Nunca soube o que isso queria dizer, mas sentia o coração apertar ao dizer Adeus... Agora só haviam sobrado os "mininu", e quando a oportunidade de uma "vida melhor"voltou levou Édinho.
- Mininu novo, vai se acostumá fácil.
A mãe chorou, virou-se e engoliu a vida seca. Nunca disse Adeus. Foi assim que Édinho conheceu sequidão dos homens, vida de dor. Do ser subjugado e usado. Ser deixado como bicho, como algo que nada vale. Não entendia porque aqueles homens o machucavam tanto...
Ele nunca havia feito nada. Era uma criança, queria brincar de bola, ir a escola... Queria ser gente... Nunca o olhavam nos olhos... Por isso, aprendeu a manter a cabeça sempre baixa, os olhos no chão.
Tinha pavor dos olhos daqueles homens... Cresceu filho do medo, do desrespeito e da exploração... Cresceu cabisbaixo, objeto, utilitário...
"Dos filhos deste solo, és mãe gentil Pátria Amada Brasil"

*Escrito por Pérola Boudakian **Texto parte da intervenção no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

Filhos da Mãe!


Histórias vivas.
Histórias de carne, osso e desejo.
Histórias que dizem: Sou gente!
Histórias que ecoam: Tenho Direitos!

Seguem as histórias contadas a partir da Intervenção com bonecos na Marcha das Mulheres 2008 - Centro, SP.

28 de maio de 2008

Sou vida!



Washington, 17 anos. Um verdadeiro filho da mãe.
Diná: Mãe, drogada e prostituida.
Tudo começou quando Diná 05 anos.
Seu padastro entrava em seu quarto, sempre depois que todos dormiam.
Trágico era que ninguém mais via, ninguém ouvia
Seu choro baixinho, sua vergonha, seu medo.
E assim Diná achou que era isso que podia ser na vida.
Objeto de alguém. Para usar e jogar fora.
Profissão: mulher da vida.
Foi assim que chegou Washington.
Diná, 14 anos, grávida e abandonada.
Pré-natal: cocaína, bebida álcóolica e sexo.
Washington nasceu dependende.
Dependente das mazelas da vida, da droga, das ruas sujas.
Maltrapilho da cidade. Dizem que é louco, dizem que fala sozinho.
Há quem diga que é sofrido.
Todos os direitos que já botaram em lei, com ele
foram violados.
Toda vida, violada, maldita.
Jogada na sargeta.
Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida. Creio na superação das incertezas deste fim de século. O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando no fim terás o que colher. Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida, não desistir da luta.
Recomeçar na derrota. Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar’.
Cora Coralina
*Escrito por Pérola Boudakian **Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com

Sou gente!


Dona Zefa sempre trabalhou. Mulher trabalhadeira.
Não pode fazer corpo mole. Tudo começou quando ela tinha 12 anos. Trabalho em casa de família. Zefa é mulher trabalhadeira. Lava, passa, cozinha e arruma. Sempre trabalhou para os patrões brancos. Não que se importasse.
Mãos calejadas, a coluna arrebentada. Não aprendeu a ler, mas cozinha que é uma beleza. Não aprendeu a escrever, mas passa a roupa que nem só ela.
Mulher trabalhadeira.
Negra, casada com negros, filhos negros. Filhos negros violados. Parados pela polícia. Vigiados pela policia. Violados pela policia, mas Zefa, mulher trabalhadeira, abaixa a cabeça e pede a Deus que no caminho da escola para casa seu filho não se entregue ao tráfico para fugir da polícia. Enquanto lava, passa e adorna, ora baixinho para seu filho, negro, nao ser humilhado, não ser parado. Ele precisa crescer, precisa ser um negro trabalhador, filho da mãe, filho da mãe trabalhadora. Mulher e negra.
Quem segurava com força a chibata agora usa farda, engatilha a macaca, escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista, pra passar na revista. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Marcelo Yuka
*Escrito por Pérola Boudakian **Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

Sou mulher!

"Todo dia ela acorda e faz tudo igual. Me sacode às seis horas da manhã. Me sorri um sorriso pontual..."
Chico Buarque
Todos os dias a mãe de José, Dona Maria, levanta às 4h30 da manhã, põe café e pão para seu companheiro, um perfume baratinho no pescoço, beija os 4 filhos na cama e vai trabalhar.
Dois ônibus, três horas, trânsito, aperto e angústia no peito. A angústia tem nome: José da Silva. Seu filho. Sem paradeiro, sem volta. Amaldiçoado pela droga, nem suas orações o trouxeram de volta.
José é um filho da mãe, mãe - sofrimento. Mãe dor. Dor de imaginar seu filho perdido na cidade, numa calçada qualquer, sujo e ignorado.
Violado. Direitos violados.
Vidas violadas. Vida de mãe e de filho.

E assim, Dona Maria, segue, ...

"Todo dia ela faz tudo sempre igual..."
*Escrito por Pérola Boudakian ***Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

13 de março de 2008

EXPRESSO BALAIO - Quem vai embarcar?

Jd. Reimberg. Jd.Eliana. Jd. Lucélia. Residencial Cocaia. Grajaú.

...no Expresso deste Balaio moradores contam como a história destes bairros se misturam às histórias de suas vidas e de suas famílias....
Neste mês no barracão as historias chegam de ônibus expresso, do Rio Grande do Norte, da Bahia ou do Ceará, rumo ao distrito do Grajaú.
São histórias contadas através do chamado Expresso do informativo do coletivo Balaio Grajaú.
Este coletivo nasce com o anseio de tornar visível e acessível as ações culturais do distrito do Grajaú. Composto por grupos culturais e entidades da região, o coletivo caminha rumo à construção de uma missão que em princípios visa fomentar ações culturais e intervir de maneira lúdica, possibilitando construir um canal de comunicação entre as entidades e os grupos culturais locais e, entre estes, e o Poder Público. Atualmente a principal ação do Balaio Grajaú tem sido a publicação bimestral do informativo “BALAIO CULTURAL”, imprimindo em média 1000 exemplares e a alimentação do BLOG http://www.balaiocultural.blogspot.com/ .
Quem vai embarcar?

6 de março de 2008

Da Bahia para o Lucélia - por Seu Vivaldo Néri


Partida: Boa Sorte, Bahia...

...Destino: Jd. Lucélia
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Estava lá na BAHIA com 20 anos, a vida lá era mais difícil, a gente saía para procurar uma vida melhor. Era jovem, queria ganhar dinheiro, conhecer SÃO PAULO que era a cidade mais famosa do BRASIL, na esperança de uma vida melhor.
Cheguei aqui em 1972, morei em outro bairro, Água Funda com irmãos e primos, eram bem uns seis rapazes solteiros. Todo mundo era pai, mãe e filho, todos juntos, só homens. Fiquei morando lá por seis anos. Não, não! Não eram seis anos, eu morei lá 8 anos. Aí conheci minha esposa. Em 79 nos casamos e eu saí de lá, fomos morar na Vila Missionária, onde morei pouco tempo, somente 10 meses. Foi onde minha filha SILVIA, a mais velha, nasceu em 80.
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Logo viemos morar no Jd. São Pedro, aqui no Grajaú, na casa da minha irmã Adelaide, onde permaneci por 3 anos e foi onde meu segundo filho nasceu, MAURO SÉRGIO, em 81. Em 1982 começou o loteamento do Jd. Lucélia, foi quando consegui comprar um terreno, construímos a casa em 1984 viemos morar aqui no Jd. Lucélia e neste mesmo ano nasceu meu filho WELLINGTON.
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Nunca me arrependi de ter vindo pra cá, para mim o melhor lugar do Brasil é São Paulo e o Grajaú sempre foi muito bom pra mim.
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Pode ter lugar melhor, mas pra mim aqui é muito bom. Daquele tempo para cá o GRAJAÚ melhorou muito, mas tem muita coisa ainda pra melhorar. O pior é que o Grajaú é muito longe da cidade, a gente passa por todas as vilas e só vai fiar no final, encostado na balsa, meu! É longe demais! Tá loco!
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Em questão de ser sossegado, naquele tempo era até pior, a gente estava construindo aqui e nos roubavam direto. Roubavam material, roubavam tudo dentro das casas. Agora não se vê mais falar disto. Naquela época tinha muita chacina, me lembro de uma que mataram sete de uma vez. Bem, naquele tempo! A única vez que eu fui assaltado foi naquele tempo, bem aqui no Jd São Pedro que até levaram minha aliança.
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Um ponto negativo [do Grajaú] para mim é o transporte, é muito longe do centro da cidade e o transporte que temos está precário, as ruas para cá são muito estreitas, o transito é grande, parece que estamos num beco. Nesta avenida BELMIRA MARIN é um carro atrás do outro, se para um, pronto, já causa o maior transito e tem ainda estes caminhões de entrega que complicam ainda mais esta situação.
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Eu só posso fala por mim, e para mim aqui está muito bom, gosto muito do Grajaú.
*Transcrito por Wellington Néri, educador, artista prático e grafiteiro para o Expresso Balaio Cultura Grajaú - http://balaiocultural.blogspot.com/

5 de março de 2008

Da Bahia para o Lucélia - relato de Funga ou Tequila


Partida: Campo Formozo BA...
...Destino: Jd. Lúcélia SP
O relato de Funga ou Tequila como muitos o conhecem no Grajaú
Meu nome verdadeiro é Flavio Carvalho,
vem das GERAÇÕES dos Carvalhos da Bahia e foi na lá mesmo que nasci no ano de 1941.
Na Bahia mexia com gado, era vaqueiro, ficava as vezes até mês no mato atraz de gado. Mas lá todo mundo é amigo, você come na casa de um, dorme na casa do outro. Quando chegavamos nas casas, logo anunciavam
- “CHEGOU O VAQUEIRO DO RODOLFO”, meu pai se chamava Rodolfo.
Então você tinha cama, comida, você tinha tudo. E a comida! Pelo amor de Deus!
Vim para São Paulo em 1959 e fui morar na Vila Stª Catarina.
Gostava muito de pescar, o lugar escolhido era esta região de rios e represa do Grajaú.
Lembro-me de uma vez que eu e meu filho mais velho viemos pescar por aqui, em um riacho que hoje é um corrego, ali próximo ao ponto final do ônibus do Jd. LUCÉLIA. Era mais ou menos o ano de 1962, aqui era um brejo, não tinha casas. Naquele tempo eu tinha uma caminhonete.
Então jogamos as tarrafas e vinha peixe que não acabava mais, era aquele chamado SARAPÓ, parecido com Bagre, era tanto peixe que não coube nas caixas que trouxemos, então meu filho perguntou:
- "PAI O QUE A GENTE FAZ COM ISTO?” e eu falei: A GENTE COME.
Depois tiramos as caixas e jogamos tudo na caminhonete, quase que não cabia também na caminhonete.
Quando cheguei na Vila Stª Catarina as pessoas pareciam um monte de formiga, e eu falava: Leva! Leva!leva!.
É por isto que Deus me dá esta vida, matou a fome de muita gente. Eu adoro a vida assim e é por isto que eu enxergo com esta idade.
Nesta época ouvi uma reportagem no rádio (nesta época era só rádio) que falava do Grajaú e que estava vendendo terrenos por aqui, meu filho ouviu também e me disse:
- “PAI EU SEI ONDE É, FICA PERTO DO RIACHO QUE PASSAMOS SEMANA PASSADA".
- PERTO DA REPRESA?
- É SIM.
Então, justamente nesta época de 1962 vim para cá com minha esposa e três filhos, hoje tenho mais seis netos, dois de cada filho meu. Esta vila me deu amor, a Catarina para mim morreu, eu nem penso onde eu morava.
Aqui você cheira o mar, aqui você cheira as arvores e ela te alimenta os olhos, aqui é a coisa mais linda do mundo, aqui deveria se chamar JARDIM PARAÍSO DO MUNDO, aqui não é uma vila qualquer, pelo nome é MULHER, Jd. Lucélia, e a mulher é a coisa mais importante da vida da gente.
Aqui era tudo mata, aquele corrego que hoje é um CORREGO dava tanto peixe.
Hoje? Hoje mudou para melhor, pois tenho amigos em todo lugar que eu vou e ouço as pessoas me chamando:
- O TEQUILA! O TEQUILA!
* Transcrito por Wellington Neri da Silva “TIM” para o http://balaiocultural.blogspot.com/

Do Rio Grande do Norte para o Jd. Eliana - Geralda Paixão da Cunha conta


Partida: Rio Grande do Norte ....
...Destino: Jd.Eliana
Geralda Paixão da Cunha conta
Vim lá do RIO GRANDE DO NORTE, com 16 ANOS me casei, com 17 ANOS ganhei minha primeira filha,
aí o pai da minha filha veio morar em SÃO PAULO... lá não tinha meio de sobreviver, muito pouco, então ele veio para cá.
Depois ele veio me buscar, e eu vim direto pra o JD. ELIANA. Não tinha ENERGIA, isto era em 1972, eu tinha 19 ANOS,
fiquei morando na casa de minha cunhada edepois de 2 anos estávamos em nosso próprio terreno.
Em 1974 ganhei meu segundo filho. Nesta época não tinha energia e água era só de POÇO, não tinha onibus.
Ônibus em 2 em 2 horas, 6 vezes ao dia, era o Balsa, que vinha de Sto Amaro.Tinha ônibus no Grajaú, perto do Circo Escola, entãovocê pegava carona ou vinha A PÉ até o Eliana.
Pra quem trabalha era assim,
ia a pé de madrugada,
dentro do matagal,
sem energia,
só tinha energia no bar do rapaz que emprestava a energia para a gente,
só que a gente não podia ligar a televisão e a luz ao mesmo tempo,
porque a luz era fraca, de um bar, para fornecer para as casas, poucas casas.
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Na rua em que morei eram 5 casas e não ficavam perto uma das outras.
Algumas pessoas usavam a TERRA para a plantação.
Ai aos poucos o Jd. Eliana foi aumentANDO.
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Não tinha ESCOLAa 1º foi o Clarina, construída de madeira.
Não tinha nada, o posto de saúde mais proximo era no Grajaú,
depois do Circo Escola, farmácia também, paralevar as crianças tinha que pegar uma lotação, carro,
aqueles carros caindo aos pedaços, no meio do barro,
o carro atolava.
Para você ir para Sto Amaro, a gente ia de CHINELO no barro e
quando chegava no onibus tirava os
chinelos guardando em uma sacolinha e calçando um sapato.
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Ai em 1978 tive meu TERCEIRO filho e em 1981 meu QUARTO filho....
Para você chegar na represa, você só pegava mato,a represa vinha aqui,
ali na garagem de onibus da Bola Branca, alí era só água,
quando chovia você não passava ali não.
Daquela época para cá, melhorou muito,
o povo FALA MUITO do Grajaú ser violento, mas eu não acho,
eu acho aqui muito sossegado, para mim aqui é maravilhoso!
Eu não me vejo morando em um outro lugar, gosto muito daqui,
principalmente o Eliana, MINHA RUA, MINHA CASA...
Não troco o Grajaú pelo Morumbi de maneira nenhuma.
Aqui nós temos nossa amizade que é muito importante,
sou uma mulher que tenho muitas amizades graças a Deus,
minhas amizades eu não troco por dinheiro nenhum.
O Graja tem fama né!
Tipo assim, se você vai lá no centro, ai o povo fala assim
- Aonde você mora? Moro no Grajaú
- Nossa você mora no Grajaú.
Mas eles não sabem, eles só conhecem a fama do Grajaú como má,
eles não conhecem o bem do Grajaú que é o sossego aqui, aqui é sossegado.
O que é ruim no Grajaú é só a saúde, é só a SAÚDE,
porque o único hospital mais próximos é o Hospital Grajaú, e
ainda LOTADO, você não tem como ir lá,
você só vai lá mesmo quando já esta realmente lesado.
O mais difícil é a saúde.
*Transcrito para o Expresso Balaio Cultura Grajaú - http://balaiocultural.blogspot.com

Da Bahia para ao Jd. Reimberg - Seu Artur Felipe de Deus


Partida: Ubaitaba, BA...



...Destino: Jd. Reimberg, Grajaú, SP

Nas próximas linhas vamos contar a história do Seu Artur Felipe de Deus, 47 anos, morador do Jd. Reimberg:
Partiu de Ubaitaba, na BAHIA, em 1981 com destino à SÃO PAULO, com o sonho de conseguir uma vida mais digna na cidade grande. Ao chegar, morou no Jd. Luso no município de Diadema (região metropolitana de São Paulo). Em 82 mudou-se para o Jd. Lucélia (Grajaú) e depois para o Jd. São Pedro. Segundo ele o clima era pesado na região, "ocorriam muitas mortes", diz. Circulou por várias regiões da cidade durante todo o período que morou aqui. Seus 26 anos em Sampa se caracterizam pela CONSTANTE MUDANÇA. Não somente habitou o Grajaú, mas em diversos bairros da capital e da grande São Paulo. No Jabaquara, com sua ex-mulher Raimunda do Espirito Santo teve seus dois filhos, ARITHON FELIPE DE DEUS (conhecido como TERRA PRETA) e ÁQUILA FELIPE DE DEUS. Mecânico de profissão cursou e trabalhou na área, hoje seu Artur faz um corre em diversas profissões: é um pouco pedreiro, pouco eletricista, conserta alguns eletrodomésticos.
Há 7 anos morador do Jd. REIMBERG, após uma temporada de três anos em Curitiba acompanhando uma tribo indígena, seu Artur, além do trabalho para garantir o pão, vêm propiciando atividades esportivas, de lazer e culturais com o PROJETO SUA CASA, destinado às crianças da comunidade em que os pais estejam envolvidos com drogas. Para ele os
pais das crianças não são vilões, são "vítimas do estado e seus filhos e filhas carentes de amor". E é isso o que ele oferece as crianças. O vimos quando realizamos entrevista para este Expresso, constantemente crianças o procuravam solicitando bola, andar de bicicleta, pegar livros emprestados, etc. Seu Artur, paciente, respondia negativamente porque naquele dia estava capinando a grama próxima ao espaço das quadras conquistadas pela comunidade.
Perguntado sobre o que mudou nos anos em que tem morado no Grajaú, seu Artur responde:
- Mudou a tecnologia, a mente mudou. Hoje pela juventude a gente vê o contraste cultural que é isso aqui. A juventude mudou pra melhor. Hoje ela cobra seus direitos por meio do Rap que as escolas não acompanham.
* Escrito por Gerson Brandão após conversa com seu Arthur para o Expresso Balaio Cultura Grajaú - http://balaiocultural.blogspot.com.

9 de janeiro de 2008

Histórias Risca FACA

Risca-faca é uma expressão regional que significa que a "justiça" é decidida na ponta de peixeira. Perpetuado como apelido dado a alguns salões de baile, em que, quase sempre dava briga... sendo uma das características, dos "brigões" riscar a faca, principalmente, onde houvesse pedra, para tirar faísca, e amedrontar o oponente.  



... pois a história desse lugar tem muito a ver com a minha história de vida..
Aqui as armas são palavras rEu vivia fechada num mundo onde havia apenas meus pensamentos...iscando histórias no chão: Palavras-faíscas.  
No chão, na rua, na sala de aula, no som, no papel, na roda de amigos...

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Histórias compartilhadas entre seis jovens e a pequena filha de um deles, no
F.A.C.A.
Foco de Atividades Culturais Alternativas:
Sou morador do extremo sul da cidade de São Paulo... .
Kleber
...qual é da desses cara aí, desses cabelo grande aí, esses doidão aí...
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Paulo
...Sou afro-brasileira, em si mais afro do que brasileira..
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Lucimara
...Vou falar um pouco de algo que sempre fez parte de mim e que há tempos atrás já me incomodou muito...
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Cássia
...me reconheço como membro ativo dentro da mudança que acredito...
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Juliana
...Não consegui me interessar tanto pela matéria dada na escola...
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Lauro
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Sabrina

8 de janeiro de 2008

F.A.C.A. por Kleber

Meu nome é Kleber, tenho 23 anos,
morador do extremo sul da cidade de São Paulo.
A história que quero deixar registrada é sobre um lugar chamado F.A.C.A.
Foco de Atividades de Cultura Alternativa,
pois a história desse lugar tem muito a ver com a minha história de vida
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Aos 14 anos me envolvi com o movimento punk, que abriu meus olhos para um mundo de luta e questionamento em uma sociedade repleta de desigualdades. O movimento Punk me proporcionou conhecer o Straigh Edge, uma postura livre de dependências pautada no vegetarianismo ético
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Esses valores permearam a minha vida e nas minhas relações humanas, na forma de educar minha filha, enfim, no meu jeito de viver
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Com isso no ano de 2006
,
eu e um grupo de amigos decidimos construir o F.A.C.A., um lugar onde as diferentes formas de expressões culturais artísticas pudessem se encontrar e causar uma reflexão e mudança na vida das pessoas que aqui freqüentam
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Uma das coisas que deixam feliz hoje é que o F.A.C.A. está constituído e realizando suas atividades agora não só por meio do HardCore ou por meio de manifestações culturais
,
mas
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por meio de diversas pessoas que aderiram a luta, vestiram a camisa, hastearam a bandeira e contribuem para que esse espaço continue sendo possível.

QUAL É DA DESSES CARA AÍ...? por Paulo

Meu nome é Paulo, tenho 22 anos. Na verdade nem todos me conhecem como Paulo. Tenho vários apelidos aí na rua, desde Macarrão, por causa do cabelo, Rasta e por aí vai...
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Desde muito novo eu me indigno com algumas ações que ocorrem no cotidiano, na vida, tanto perto de mim, como pelo mundo afora
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Eu queria ser médico, por conta de achar que sendo médico eu podia ajudar muitas pessoas, de repente até salvar algumas vidas
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e
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por essa indignação eu questionava tudo e um dia
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por acaso
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aos 13 anos, em 1998, eu vi um CD de música de minha irmã, que era o CD da banda The Wailers e tinha uns rapazes meio estranhos na capa,,
qual é da desses cara aí,
desses cabelo grande aí,
esses doidão aí.
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Aí quando eu escutei, eu simplesmente arrepiei dos pés a cabeça eee eu não sabia o porque, num sabia, mas tinha gostado, estranho isso, mas é verdade e fui atrás saber o porque.
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Aí de 98 até 2000, fiquei atrás de leituras, de músicas, de pessoas conhecidas ou mais sobre o reggae mesmo. Acabei descobrindo que era isso que eu gostava, era isso que eu sentia e através do reggae eu conseguia descobrir mais sobre as indignações, algumas respostas e alguns meios pra lutar contra essas injustiças, esses preconceitos, e por ai afora.
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O modo de viver Rastafari que eu comecei a conhecer um pouco em 99
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Em 2000 eu decidi seguir, eu comecei a viver mais a parte Rastafari mas na verdade eu já seguia isso ... eu me achei, eu me identifiquei, que eu já era.
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Sempre falamos que o Rastafari ele não vira, ele apenas se encontra
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E através do reggae eu fui vendo muitas coisas aprendendo muito e através desse aprendizado eu percebi que pra mudar alguma coisa eu tinha que passar o meu saber. Aí por isso eu entrei na faculdade de história pra lecionar e pra aprender um pouco mais, é lógico. Tem que aprender mais pra saber passar mais.
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E no primeiro ano do curso de História eu já entrei numa Associação Comunitária, cujo nome é Associação Comunitária Amanhã para Todos, onde lá eu ajudava na parte cultural, ajudo ainda, e principalmente na parte educacional, que eu dou aula de História e Cidadania, onde tem algumas crianças que participam da aula e é muito engraçado
que as crianças ficam doidas com algumas coisas que eu falo e não sabem o porque, ai eu tenho que explicar muitas coisas do cotidiano. Assim como eu era antigamente, só que não tinha ninguém pra me explicar, que me explicou foi o reggae
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Eu tô ai pra ensinar outras crianças que não têm exatamente esse viés que eu tive
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E no começo do ano, por conta, creio eu, da minha opção alimentar, sou vegetariano, eu conheci outras pessoas também vegetarianas e essas pessoas que fazem parte do F.A.C.A., Foco de Atividades de Cultura Alternativa e por conta disso essas pessoas fazem varias atividades em prol da vida, em prol do humano e eu me identifiquei muito.
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Hoje em dia eu faço parte do FACA da Associação Comunitária
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Faço parte de uma banda de reggae, que eu não posso deixar de lado a minha raiz, o meu acordar, vamos dizer assim, porque eu sabia antes, mas eu não tinha o rumo pra onde seguir, depois do reggae que eu tive o rumo daonde caminhar e pra finalizar um pouco da minha história eu vou falar uma frase do Haile Sellassie que diz o seguinte: Devemos no tornar membros de uma nova raça, ultrapassando pequenos preconceitos e sim respeitando a comunidade humana.
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Esses são alguns meios que eu encontrei pra, formas de luta pra com esses meios mudar a sociedade em si e não mudar pra algo diferente, por quere ser diferente e sim por questão igualitária e não igualitária na miséria e sim igualitária para todos ter.
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O F.A.C.A. e a Associação Comunitária e do despertar que foi o reggae na minha vida, que despertou para essa luta, que na verdade essa luta me mostrou muitos amigos nas minhas caminhadas e essas são algumas das coisas que nós podemos fazer.

UM POUCO DE LUZ, UM POUCO DE AMARGO por Lucimara


Lucimara, esse é o meu nome
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18 é só uma idade do RG
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O significado do meu nome é ainda mais importante
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É a junção de dois nomes Luci Mara
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O significado é Luz Amargo
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Automaticamente me sinto
um pouco de cada um,
pois todo mundo tem em si
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um pouco de luz e
um pouco de amargo
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Sou afro-brasileira, em si mais afro do que brasileira
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Em minha infância e juventude sempre ouvi falar:
Cabelo durango e lábios grandes, é feio
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Simples e fácil aprendi a me aceitar do jeito que sou e o mais importante é que foi por dentro e por fora, pois ainda existe gente que não sabe a importância que isso tem...
Nesse meio tempo conheci uma pessoa muito importante que é professor de história e acabou enriquecendo ainda mais a minha segurança de ser afro-descendente e não só brasileira. E o engraçado é que Paulo, meu namorado, além de ser professor, é branco, também tem o cabelo durango igual o meu
...
A importância que isso tem pra mim é seja e se aceita do jeito que tu és, pois isso é mais importante que qualquer coisa.

MINHA CASA MORADA por Cassia

Sou Cássia, tenho 21 anos. Vou falar um pouco de algo que sempre fez parte de mim e que há tempos atrás já me incomodou muito
,
mas eu percebi que essa mesma coisa
aliada
a uma outra coisa importante
me fez perceber valores
.
São elas a timidez e a amizade
.
Eu sempre fui uma garota muito tímida. A timidez sempre me pareceu um grande problema nas relações. Tanto com os outros, quanto comigo mesma
.
Eu vivia fechada num mundo onde havia apenas meus pensamentos.
De repente um livro um caderno, uma caneta.
Havia muitas dificuldades em fazer amizade e ser aceita em algum grupo
.
Eu sempre buscava alguma identidade coletiva, que, na verdade não era verdadeira nessas relações. Coisa que eu percebia logo e desistia de buscar porque aquilo me soava falso, então eu nunca podia me satisfazer com aquilo
.
Uma coisa que eu sei das minhas viagens comigo mesma, é que eu posso viver dentro de inverdades para os outros, de fora, se assim eles enxergarem, mas não posso viver isso pra mim
.
Eu tenho certeza que a pior sensação do mundo é perceber que eu trai a mim mesma e o tal de pingo de integridade no qual você pode viver realmente sendo você. Isso é muito importante
...
As coisas começaram a mudar, quando eu conheci o pessoal do extremo sul e do F.A.C.A., pessoas unidas por uma causa em comum, mas seres humanos subjetivos, o que implica no desenvolvimento das relações, que são complicadas
.
Nesse grupo de amigos eu senti que posso ser eu mesma, sem que tenha que me definir como algo. Onde eu posso errar, viver, pensar o que quer que seja, estarei sempre sendo eu, por diversas que as opiniões sejam e sempre teremos cada um o seu lugar dentro desse grupo
.
Algo que sempre prevalece é esse algo em mim, eu sinto que a liberdade de ser o que sou
.
Mesmo que inconstante e indefinido
.
Sinto-me mais ou menos como na frase do Gandhi, que eu não vou lembrar, mas que é mais ou menos assim:
Eu não quero minha casa morada, não quero nem ao menos janelas, quero que todas as culturas circulem o mais livremente possível, mas não me deixarei dominar por nenhuma delas.

SONHO DE CRIANÇA por Juliana

Meu nome é Juliana, a Ju como a maioria das pessoas me chama. Tenho 21 anos, sou filha caçula de uma família de dois filhos, de um casamento proveniente de um encontro em um parque de diversão na periferia de São Paulo
.
Sempre fui uma criança muito calada e sonhadora
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As minhas principais metas de vida eram uma profissão e construir uma família
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Em 2005, o sonho de criança começou a tornar-se realidade
...
Entrei na Universidade de História, onde reencontrei um amigo de muitos anos atrás, que atualmente é o meu companheiro de todas as horas, meu namorado. Ele me mostrou uma outra visão de mundo
.
Responsável por aflorar dentro de mim um sentimento de luta, de mudança para um mundo mais justo
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Hoje eu sou professora de história, faço parte do espaço cultural F.A.C.A., me reconheço como membro ativo dentro da mudança que acredito. Eu também estou construindo uma família com raízes fortes, com uma pessoa especial e com princípios que ao longo da vida adquirimos.

A ESCOLA E A VIDA por Lauro

A minha história é meio simples, é meio louca. Eu não sei porque nunca gostei de ser o centro das atenções, tive poucos e bons amigos, entre eles o James, o Teta, o Kleber... O James era o maior barato, um cara doidão, mas o que me chamava mais atenção era que o cara num suava, meu. A gente corria horas, horas não, o tempo do intervalo todo na escola... eu ficava com a camisa toda molhada de suor e o cara nem suava!... Bons tempos aqueles... Desde pequeno eu queria tirar notas melhores na escola
...
Não consegui me interessar tanto pela matéria dada na escola
...
mas eu curto estudar e perceber o comportamento das pessoas
.
Na faculdade tive um professor de filosofia chamado Ari e estudei um livro chamado Autobiografia de um Iogue, fala sobre autoconhecimento e meditação, me liguei nesse assunto. Autoconhecimento é o que todo mundo procura na verdade. Descobri que nós estamos construindo o que somos agora, que temos em nossas mãos, pensamentos e ações, o volante da nossa evolução. Parece que tem algo a ser conhecido por trás do silêncio, do sorriso, da beleza e de tudo que existe quando estamos presentes receptivos e atentos
.
É legal aplicar isso no dia-dia e saber que muitas pessoas já vivem isso
,
mesmo sem saber que sabem
...
Na minha história hoje trago essa mensagem e termino com uma frase de Krishna Murti:
Quando você pergunta se é feliz, aí você não é mais.

BELINHA por Sabrina

Agora eu vou falar dos gatinhos
,
que quando eles nasceram eu fiquei emocionada...
Eles são tão fofiinhos e,
eu gosto muito deles e da gata, ee
quando nasceu o filhotinho da Belinha
eles nasceram,
eles nasceram que nem um rato,
nem eu tinha coragem de pegar neles...
* Sabrina tem 6 anos, gosta de gatos e é filha de Kleber.