13 de março de 2008

EXPRESSO BALAIO - Quem vai embarcar?

Jd. Reimberg. Jd.Eliana. Jd. Lucélia. Residencial Cocaia. Grajaú.

...no Expresso deste Balaio moradores contam como a história destes bairros se misturam às histórias de suas vidas e de suas famílias....
Neste mês no barracão as historias chegam de ônibus expresso, do Rio Grande do Norte, da Bahia ou do Ceará, rumo ao distrito do Grajaú.
São histórias contadas através do chamado Expresso do informativo do coletivo Balaio Grajaú.
Este coletivo nasce com o anseio de tornar visível e acessível as ações culturais do distrito do Grajaú. Composto por grupos culturais e entidades da região, o coletivo caminha rumo à construção de uma missão que em princípios visa fomentar ações culturais e intervir de maneira lúdica, possibilitando construir um canal de comunicação entre as entidades e os grupos culturais locais e, entre estes, e o Poder Público. Atualmente a principal ação do Balaio Grajaú tem sido a publicação bimestral do informativo “BALAIO CULTURAL”, imprimindo em média 1000 exemplares e a alimentação do BLOG http://www.balaiocultural.blogspot.com/ .
Quem vai embarcar?

6 de março de 2008

Da Bahia para o Lucélia - por Seu Vivaldo Néri


Partida: Boa Sorte, Bahia...

...Destino: Jd. Lucélia
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Estava lá na BAHIA com 20 anos, a vida lá era mais difícil, a gente saía para procurar uma vida melhor. Era jovem, queria ganhar dinheiro, conhecer SÃO PAULO que era a cidade mais famosa do BRASIL, na esperança de uma vida melhor.
Cheguei aqui em 1972, morei em outro bairro, Água Funda com irmãos e primos, eram bem uns seis rapazes solteiros. Todo mundo era pai, mãe e filho, todos juntos, só homens. Fiquei morando lá por seis anos. Não, não! Não eram seis anos, eu morei lá 8 anos. Aí conheci minha esposa. Em 79 nos casamos e eu saí de lá, fomos morar na Vila Missionária, onde morei pouco tempo, somente 10 meses. Foi onde minha filha SILVIA, a mais velha, nasceu em 80.
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Logo viemos morar no Jd. São Pedro, aqui no Grajaú, na casa da minha irmã Adelaide, onde permaneci por 3 anos e foi onde meu segundo filho nasceu, MAURO SÉRGIO, em 81. Em 1982 começou o loteamento do Jd. Lucélia, foi quando consegui comprar um terreno, construímos a casa em 1984 viemos morar aqui no Jd. Lucélia e neste mesmo ano nasceu meu filho WELLINGTON.
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Nunca me arrependi de ter vindo pra cá, para mim o melhor lugar do Brasil é São Paulo e o Grajaú sempre foi muito bom pra mim.
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Pode ter lugar melhor, mas pra mim aqui é muito bom. Daquele tempo para cá o GRAJAÚ melhorou muito, mas tem muita coisa ainda pra melhorar. O pior é que o Grajaú é muito longe da cidade, a gente passa por todas as vilas e só vai fiar no final, encostado na balsa, meu! É longe demais! Tá loco!
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Em questão de ser sossegado, naquele tempo era até pior, a gente estava construindo aqui e nos roubavam direto. Roubavam material, roubavam tudo dentro das casas. Agora não se vê mais falar disto. Naquela época tinha muita chacina, me lembro de uma que mataram sete de uma vez. Bem, naquele tempo! A única vez que eu fui assaltado foi naquele tempo, bem aqui no Jd São Pedro que até levaram minha aliança.
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Um ponto negativo [do Grajaú] para mim é o transporte, é muito longe do centro da cidade e o transporte que temos está precário, as ruas para cá são muito estreitas, o transito é grande, parece que estamos num beco. Nesta avenida BELMIRA MARIN é um carro atrás do outro, se para um, pronto, já causa o maior transito e tem ainda estes caminhões de entrega que complicam ainda mais esta situação.
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Eu só posso fala por mim, e para mim aqui está muito bom, gosto muito do Grajaú.
*Transcrito por Wellington Néri, educador, artista prático e grafiteiro para o Expresso Balaio Cultura Grajaú - http://balaiocultural.blogspot.com/

5 de março de 2008

Da Bahia para o Lucélia - relato de Funga ou Tequila


Partida: Campo Formozo BA...
...Destino: Jd. Lúcélia SP
O relato de Funga ou Tequila como muitos o conhecem no Grajaú
Meu nome verdadeiro é Flavio Carvalho,
vem das GERAÇÕES dos Carvalhos da Bahia e foi na lá mesmo que nasci no ano de 1941.
Na Bahia mexia com gado, era vaqueiro, ficava as vezes até mês no mato atraz de gado. Mas lá todo mundo é amigo, você come na casa de um, dorme na casa do outro. Quando chegavamos nas casas, logo anunciavam
- “CHEGOU O VAQUEIRO DO RODOLFO”, meu pai se chamava Rodolfo.
Então você tinha cama, comida, você tinha tudo. E a comida! Pelo amor de Deus!
Vim para São Paulo em 1959 e fui morar na Vila Stª Catarina.
Gostava muito de pescar, o lugar escolhido era esta região de rios e represa do Grajaú.
Lembro-me de uma vez que eu e meu filho mais velho viemos pescar por aqui, em um riacho que hoje é um corrego, ali próximo ao ponto final do ônibus do Jd. LUCÉLIA. Era mais ou menos o ano de 1962, aqui era um brejo, não tinha casas. Naquele tempo eu tinha uma caminhonete.
Então jogamos as tarrafas e vinha peixe que não acabava mais, era aquele chamado SARAPÓ, parecido com Bagre, era tanto peixe que não coube nas caixas que trouxemos, então meu filho perguntou:
- "PAI O QUE A GENTE FAZ COM ISTO?” e eu falei: A GENTE COME.
Depois tiramos as caixas e jogamos tudo na caminhonete, quase que não cabia também na caminhonete.
Quando cheguei na Vila Stª Catarina as pessoas pareciam um monte de formiga, e eu falava: Leva! Leva!leva!.
É por isto que Deus me dá esta vida, matou a fome de muita gente. Eu adoro a vida assim e é por isto que eu enxergo com esta idade.
Nesta época ouvi uma reportagem no rádio (nesta época era só rádio) que falava do Grajaú e que estava vendendo terrenos por aqui, meu filho ouviu também e me disse:
- “PAI EU SEI ONDE É, FICA PERTO DO RIACHO QUE PASSAMOS SEMANA PASSADA".
- PERTO DA REPRESA?
- É SIM.
Então, justamente nesta época de 1962 vim para cá com minha esposa e três filhos, hoje tenho mais seis netos, dois de cada filho meu. Esta vila me deu amor, a Catarina para mim morreu, eu nem penso onde eu morava.
Aqui você cheira o mar, aqui você cheira as arvores e ela te alimenta os olhos, aqui é a coisa mais linda do mundo, aqui deveria se chamar JARDIM PARAÍSO DO MUNDO, aqui não é uma vila qualquer, pelo nome é MULHER, Jd. Lucélia, e a mulher é a coisa mais importante da vida da gente.
Aqui era tudo mata, aquele corrego que hoje é um CORREGO dava tanto peixe.
Hoje? Hoje mudou para melhor, pois tenho amigos em todo lugar que eu vou e ouço as pessoas me chamando:
- O TEQUILA! O TEQUILA!
* Transcrito por Wellington Neri da Silva “TIM” para o http://balaiocultural.blogspot.com/

Do Rio Grande do Norte para o Jd. Eliana - Geralda Paixão da Cunha conta


Partida: Rio Grande do Norte ....
...Destino: Jd.Eliana
Geralda Paixão da Cunha conta
Vim lá do RIO GRANDE DO NORTE, com 16 ANOS me casei, com 17 ANOS ganhei minha primeira filha,
aí o pai da minha filha veio morar em SÃO PAULO... lá não tinha meio de sobreviver, muito pouco, então ele veio para cá.
Depois ele veio me buscar, e eu vim direto pra o JD. ELIANA. Não tinha ENERGIA, isto era em 1972, eu tinha 19 ANOS,
fiquei morando na casa de minha cunhada edepois de 2 anos estávamos em nosso próprio terreno.
Em 1974 ganhei meu segundo filho. Nesta época não tinha energia e água era só de POÇO, não tinha onibus.
Ônibus em 2 em 2 horas, 6 vezes ao dia, era o Balsa, que vinha de Sto Amaro.Tinha ônibus no Grajaú, perto do Circo Escola, entãovocê pegava carona ou vinha A PÉ até o Eliana.
Pra quem trabalha era assim,
ia a pé de madrugada,
dentro do matagal,
sem energia,
só tinha energia no bar do rapaz que emprestava a energia para a gente,
só que a gente não podia ligar a televisão e a luz ao mesmo tempo,
porque a luz era fraca, de um bar, para fornecer para as casas, poucas casas.
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Na rua em que morei eram 5 casas e não ficavam perto uma das outras.
Algumas pessoas usavam a TERRA para a plantação.
Ai aos poucos o Jd. Eliana foi aumentANDO.
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Não tinha ESCOLAa 1º foi o Clarina, construída de madeira.
Não tinha nada, o posto de saúde mais proximo era no Grajaú,
depois do Circo Escola, farmácia também, paralevar as crianças tinha que pegar uma lotação, carro,
aqueles carros caindo aos pedaços, no meio do barro,
o carro atolava.
Para você ir para Sto Amaro, a gente ia de CHINELO no barro e
quando chegava no onibus tirava os
chinelos guardando em uma sacolinha e calçando um sapato.
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Ai em 1978 tive meu TERCEIRO filho e em 1981 meu QUARTO filho....
Para você chegar na represa, você só pegava mato,a represa vinha aqui,
ali na garagem de onibus da Bola Branca, alí era só água,
quando chovia você não passava ali não.
Daquela época para cá, melhorou muito,
o povo FALA MUITO do Grajaú ser violento, mas eu não acho,
eu acho aqui muito sossegado, para mim aqui é maravilhoso!
Eu não me vejo morando em um outro lugar, gosto muito daqui,
principalmente o Eliana, MINHA RUA, MINHA CASA...
Não troco o Grajaú pelo Morumbi de maneira nenhuma.
Aqui nós temos nossa amizade que é muito importante,
sou uma mulher que tenho muitas amizades graças a Deus,
minhas amizades eu não troco por dinheiro nenhum.
O Graja tem fama né!
Tipo assim, se você vai lá no centro, ai o povo fala assim
- Aonde você mora? Moro no Grajaú
- Nossa você mora no Grajaú.
Mas eles não sabem, eles só conhecem a fama do Grajaú como má,
eles não conhecem o bem do Grajaú que é o sossego aqui, aqui é sossegado.
O que é ruim no Grajaú é só a saúde, é só a SAÚDE,
porque o único hospital mais próximos é o Hospital Grajaú, e
ainda LOTADO, você não tem como ir lá,
você só vai lá mesmo quando já esta realmente lesado.
O mais difícil é a saúde.
*Transcrito para o Expresso Balaio Cultura Grajaú - http://balaiocultural.blogspot.com

Da Bahia para ao Jd. Reimberg - Seu Artur Felipe de Deus


Partida: Ubaitaba, BA...



...Destino: Jd. Reimberg, Grajaú, SP

Nas próximas linhas vamos contar a história do Seu Artur Felipe de Deus, 47 anos, morador do Jd. Reimberg:
Partiu de Ubaitaba, na BAHIA, em 1981 com destino à SÃO PAULO, com o sonho de conseguir uma vida mais digna na cidade grande. Ao chegar, morou no Jd. Luso no município de Diadema (região metropolitana de São Paulo). Em 82 mudou-se para o Jd. Lucélia (Grajaú) e depois para o Jd. São Pedro. Segundo ele o clima era pesado na região, "ocorriam muitas mortes", diz. Circulou por várias regiões da cidade durante todo o período que morou aqui. Seus 26 anos em Sampa se caracterizam pela CONSTANTE MUDANÇA. Não somente habitou o Grajaú, mas em diversos bairros da capital e da grande São Paulo. No Jabaquara, com sua ex-mulher Raimunda do Espirito Santo teve seus dois filhos, ARITHON FELIPE DE DEUS (conhecido como TERRA PRETA) e ÁQUILA FELIPE DE DEUS. Mecânico de profissão cursou e trabalhou na área, hoje seu Artur faz um corre em diversas profissões: é um pouco pedreiro, pouco eletricista, conserta alguns eletrodomésticos.
Há 7 anos morador do Jd. REIMBERG, após uma temporada de três anos em Curitiba acompanhando uma tribo indígena, seu Artur, além do trabalho para garantir o pão, vêm propiciando atividades esportivas, de lazer e culturais com o PROJETO SUA CASA, destinado às crianças da comunidade em que os pais estejam envolvidos com drogas. Para ele os
pais das crianças não são vilões, são "vítimas do estado e seus filhos e filhas carentes de amor". E é isso o que ele oferece as crianças. O vimos quando realizamos entrevista para este Expresso, constantemente crianças o procuravam solicitando bola, andar de bicicleta, pegar livros emprestados, etc. Seu Artur, paciente, respondia negativamente porque naquele dia estava capinando a grama próxima ao espaço das quadras conquistadas pela comunidade.
Perguntado sobre o que mudou nos anos em que tem morado no Grajaú, seu Artur responde:
- Mudou a tecnologia, a mente mudou. Hoje pela juventude a gente vê o contraste cultural que é isso aqui. A juventude mudou pra melhor. Hoje ela cobra seus direitos por meio do Rap que as escolas não acompanham.
* Escrito por Gerson Brandão após conversa com seu Arthur para o Expresso Balaio Cultura Grajaú - http://balaiocultural.blogspot.com.