Dona Zefa sempre trabalhou. Mulher trabalhadeira.
Não pode fazer corpo mole. Tudo começou quando ela tinha 12 anos. Trabalho em casa de família. Zefa é mulher trabalhadeira. Lava, passa, cozinha e arruma. Sempre trabalhou para os patrões brancos. Não que se importasse.
Mãos calejadas, a coluna arrebentada. Não aprendeu a ler, mas cozinha que é uma beleza. Não aprendeu a escrever, mas passa a roupa que nem só ela.
Mulher trabalhadeira.
Negra, casada com negros, filhos negros. Filhos negros violados. Parados pela polícia. Vigiados pela policia. Violados pela policia, mas Zefa, mulher trabalhadeira, abaixa a cabeça e pede a Deus que no caminho da escola para casa seu filho não se entregue ao tráfico para fugir da polícia. Enquanto lava, passa e adorna, ora baixinho para seu filho, negro, nao ser humilhado, não ser parado. Ele precisa crescer, precisa ser um negro trabalhador, filho da mãe, filho da mãe trabalhadora. Mulher e negra.
Quem segurava com força a chibata agora usa farda, engatilha a macaca, escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista, pra passar na revista. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Marcelo Yuka
*Escrito por Pérola Boudakian **Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/
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