5 de março de 2008

Da Bahia para o Lucélia - relato de Funga ou Tequila


Partida: Campo Formozo BA...
...Destino: Jd. Lúcélia SP
O relato de Funga ou Tequila como muitos o conhecem no Grajaú
Meu nome verdadeiro é Flavio Carvalho,
vem das GERAÇÕES dos Carvalhos da Bahia e foi na lá mesmo que nasci no ano de 1941.
Na Bahia mexia com gado, era vaqueiro, ficava as vezes até mês no mato atraz de gado. Mas lá todo mundo é amigo, você come na casa de um, dorme na casa do outro. Quando chegavamos nas casas, logo anunciavam
- “CHEGOU O VAQUEIRO DO RODOLFO”, meu pai se chamava Rodolfo.
Então você tinha cama, comida, você tinha tudo. E a comida! Pelo amor de Deus!
Vim para São Paulo em 1959 e fui morar na Vila Stª Catarina.
Gostava muito de pescar, o lugar escolhido era esta região de rios e represa do Grajaú.
Lembro-me de uma vez que eu e meu filho mais velho viemos pescar por aqui, em um riacho que hoje é um corrego, ali próximo ao ponto final do ônibus do Jd. LUCÉLIA. Era mais ou menos o ano de 1962, aqui era um brejo, não tinha casas. Naquele tempo eu tinha uma caminhonete.
Então jogamos as tarrafas e vinha peixe que não acabava mais, era aquele chamado SARAPÓ, parecido com Bagre, era tanto peixe que não coube nas caixas que trouxemos, então meu filho perguntou:
- "PAI O QUE A GENTE FAZ COM ISTO?” e eu falei: A GENTE COME.
Depois tiramos as caixas e jogamos tudo na caminhonete, quase que não cabia também na caminhonete.
Quando cheguei na Vila Stª Catarina as pessoas pareciam um monte de formiga, e eu falava: Leva! Leva!leva!.
É por isto que Deus me dá esta vida, matou a fome de muita gente. Eu adoro a vida assim e é por isto que eu enxergo com esta idade.
Nesta época ouvi uma reportagem no rádio (nesta época era só rádio) que falava do Grajaú e que estava vendendo terrenos por aqui, meu filho ouviu também e me disse:
- “PAI EU SEI ONDE É, FICA PERTO DO RIACHO QUE PASSAMOS SEMANA PASSADA".
- PERTO DA REPRESA?
- É SIM.
Então, justamente nesta época de 1962 vim para cá com minha esposa e três filhos, hoje tenho mais seis netos, dois de cada filho meu. Esta vila me deu amor, a Catarina para mim morreu, eu nem penso onde eu morava.
Aqui você cheira o mar, aqui você cheira as arvores e ela te alimenta os olhos, aqui é a coisa mais linda do mundo, aqui deveria se chamar JARDIM PARAÍSO DO MUNDO, aqui não é uma vila qualquer, pelo nome é MULHER, Jd. Lucélia, e a mulher é a coisa mais importante da vida da gente.
Aqui era tudo mata, aquele corrego que hoje é um CORREGO dava tanto peixe.
Hoje? Hoje mudou para melhor, pois tenho amigos em todo lugar que eu vou e ouço as pessoas me chamando:
- O TEQUILA! O TEQUILA!
* Transcrito por Wellington Neri da Silva “TIM” para o http://balaiocultural.blogspot.com/

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