4 de dezembro de 2007

MORRO DA MACUMBA por Jonato

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Não é à toa que começo a contar essa história pelo meio.
Alias essa palavra meio, sempre me intrigou,
pois desde o começo esteve comigo.
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Demorei tanto tempo para perceber que sempre há um meio por onde as coisas possam acontecer...
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Esta é a historia de um lugar, das pessoas que por ali passam e das que dali nunca vão passar. Este lugar não é exatamente um morro, mas por muito tempo foi chamado de Morro da Macumba.
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Devido a enorme quantidade de despachos que ali eram realizados, quando tudo ainda era um matagal, cortado apenas pela estrada de terra, por onde passava um ônibus, passava, mas muito longe não ia. Aqui era o ponto final, era onde jogavam os corpos mutilados, vitimas de assassinatos brutais, mortes por facada, pauladas e pedradas não eram raras. Assim contam os antigos moradores.
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Lembro que tinha cinco ou seis anos quando eu e minha família aqui chegamos.
Lembro-me de que tudo era cinza, pois do toco das árvores queimadas, ainda brotavam fios de fumaça, devido a queimada para apropriação invasiva das terras, os gravetos estralavam aos nossos pés, enquanto caminhávamos rumo ao terreno que o meu pai comprara, para fugir de mais de 10 anos de aluguel e pagou bem barato pelo lugar.
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Só pra constar parte do pagamento foi uma bicicleta velha. 
Isto porque para estas bandas ninguém queria morar. As margens da represa Billings diziam ser amaldiçoado o tal lugar. Verdade ou não, a necessidade falou mais alto e o terreno na verdade eram dois terrenos. Um ao lado do outro, inclinados, que iam de uma rua até a outra. As ruas foram sendo numeradas, assim a rua de cima ficou sendo a rua 10, enquanto a de baixo a rua 9.
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Construiu-se uma casa, bem no meio.
Dois cômodos, tijolos vermelhos, sem reboco, sem colunas, com telhas, bordas e janelas improvisadas com papelão e pedaços de madeira. A minha família: meu pai e minha mãe e mais quatro filhos. Nesta época eu ainda não era o irmão do meio, pois a caçula ainda não havia nascido. Não muito diferentes eram as famílias vizinhas.
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Foi ali que passei a minha infância, brincando de pega-pega, jogando bolinha de gude, correndo atrás de pipa. A noite, para se tomar banho, era necessário tirar um balde de água do poço e esquentar, pois a energia elétrica que vinha de uma gambiarra, puxada do poste da rua principal, não era o suficiente para fazer funcionar o chuveiro.
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Para espantar os pernilongos que eram muitos devido a proximidade da represa, minha mãe fazia fumaça queimando capim seco dentro de uma lata e ficava dando volta nos dois cômodos por fora da casa. Assim eram as coisas, mas muitas coisas mudaram.
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Com o passar do tempo...
mais e mais famílias foram chegando e todas tinha algo em comum.
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Todos eles, fugiam.
Uns fugiam da policia, outro dos bandidos, uns do aluguel, outros do nordeste. Enfim, todos fugiam.
Logo aquele lugar tornou-se um verdadeiro refugio dos desafortunados. Detalhe que eu não posso deixar de passar é o quanto as pessoas maldizem desse lugar, que a cada dia que passa só acolhe mais e mais pessoas.
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Dizem ser longe de tudo, perto do nada... 
Que as pessoas que ali moram, não moram, se escondem...
Um lugar amaldiçoado, antes mesmo de ser lugar...
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Das pessoas com quem nasci, cresci e passei junto a infância muitas se mudaram daqui e nunca mais as vi, outras tantas retornaram como filhos pródigos. Estes são os que blasfemaram na saída, os que foram abraçados pela maldição. A maldição do maldizer. Essa maldição não vem dos despachos de antigamente, mas brota como uma flor negra de quem cultiva o orgulho, a inveja, a ganância, a avareza e toda a sorte de sentimentos ruins
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Essa é a história de um lugar, das pessoas que por ali passam e das que dali não passarão, enquanto não perceberem ser elas também o meio de fazer alguma coisa por este lugar.
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Meu nome é Jonatas Rodrigues do Santos, moro na travessa rua Uirapuru, antiga rua 10, no Parque Residencial Cocaia , antigo Morro da Macumba.

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa verdade
meio de dizer
de contar
de refletir
a vida, o cantinho,
a construção
desse lugar

é linda!

porque é nada mais do que
a verdade nos pés de quem pisa
esse chão!

Luciana Duarte disse...

Parabéns Jonato...

Assim que nossa rua e conhecida,é um lugar longe de tudo.Mais é no meio dela que vivo a 24 anos de minha vida. A Travessa Arroio Irapuru, Morro da Macumba e uma historia facinante só quem sabe e sente e quem Mora ou já morou La.

Meu nome e Luciana Duarte, Conhecida no MORRRO DA MACUMBA como FOOFA.


Jonato fez um trabalho incrivel !!!