28 de novembro de 2007

HISTÓRIA DE UM AGENTE MARGINAL por Mauro Neri



Essa é a história do agente marginal que é como a história de alguns poucos sobreviventes da nossa mesmice endurecida.

Filho de migrados baianos nasci nos anos 80 num bairro extremo sul da capital paulistana. Com poucos anos em companhia dos irmãos e o Rex sem coleira, brincavam de “Aventura”, munidos de muita imaginação desbravávamos os novos bairros, a vegetação e por fim a margem da represa verde, em busca de jogos, paisagens e sonhos reais, brincando com pedacinhos de natureza, fragmentos do descarto que transformávamos em nossa civilização de faz de contas.
Trabalhando precocemente na feira e no bazar o jovem balconista desenhava seres fantásticos em papel de embrulho.

Na atitude audaz de dialogar com as pessoas do lugar, da escola, gentes do centro da cidade que compravam meus produtos em meio a um discurso decorado: “chocolate 3 é 1 real, sorvete da mama cremoso aceito passe”, sonhando em ser artista o pequeno trabalhador por de baixo da catraca conhece a cidade e sai do isolamento, cursa desenho, artes gráficas e a tal artes plásticas, descobre as instituições de cultura e a arte jovem nos muros e paredes.
Pintava telas, faixas e letreiro num primeiro contato com a grande escala, propagava tudo e a mim mesmo assinando o meu próprio nome.
Alcançada a tão sonhada faculdade que ensinou o a distancia da sabedoria e a tornar o olhar para a margem e dentro de um tema proposto retratei o meu contexto, um marco a primeira obra, intitulada O Jardim das Delícias que desencadeou o artista e a inspiração.
Daí os muros se tornaram paginas cinzas a folhear e colorir, os amigos marginais, expressão do entusiasmo múltiplo, neles me reconheci e percorrendo distancias cada vez mais longas torno hoje a origem, intrigado, buscando o inalcançável desenhando o indizível, conservando e transformando o lugar com o que a sociedade descarta.
Nós agentes somos a gente de lá, as crianças nelas nos vemos, semeamos a coletiva possibilidade do querer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lendo sua obra, um pouco de mim encontro, não desenho em papeis de embrulho, mas rabisco as paginas de meus sonhos... querendo saber o que sou e tentando pintar o serei...

Historia forte, retratada com leveza... me sentí tocada.