Olá, eu sou o Jerry Batista, trabalho com arte pública do Grajaú, do centro de São Paulo e de toda São Paulo desde o final de 1996, mas o correto em 1o. de dezembro de 96.
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Trabalho com grafite na região, trago a história do grafite pra cá, né um lugar, que é difícil o acesso de cultura, mas a gente tinha como um objetivo, não só eu um amigo meu chamado NIGGAZ também que faleceu, mas que é co-ator dessa história toda da cultura da região do Grajaú...
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...mas eu vou contar uma história não dele, mas um pequeno trecho dessa história toda, desse longo do tempo...
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Foi assim, teve um dia que conhecemos o ETAS lá na vida Madalena, um dos poetas que vive de poesia, mangueiam suas poesias (escrevem suas poesias, tiram xerox e vendem para as pessoas de bar em bar, dizendo, chegando às pessoas e perguntando se elas gostam de cultura e ai vende seus panfletos) e nisso conhecemos essa galera, achamos muito interessante, tinha tudo a ver com a arte da rua, a diferença que a gente não cobrava
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mas a gente perguntava isso, se as pessoas gostavam de cultura
e
ai um belo dia com essa galera lá, o BERIMBA, PEDRO TOSTES, RENATO LIMÃO, FERNANDA né e junto com MAURO, o TIM, e eu resolvemos ir para a feira de Parati, pra vender poesia lá, já que é uma feira internacional, onde vai vários poetas, vários autores e é um bom lugar para se manguear como diziam os poetas
e
então resolvemos ir com essas pessoas pra lá, eu e o MAURO pra ver se a gente vendia nossos trabalhos, a gente pintaria algumas lonas, algumas coisas que daria pra enrolar, pagaria a diária em umas barracas e ficaria lá com as pessoas mangueando e nisso foi o irmão do Mauro também, o TIM que alem de pintar ele estava de férias, ele de férias e nois dois, eu e o Mauro pra trabalhar
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Como a gente vai manguear
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A gente é muito acostumado com grafite, todo lugar chegar e pintar, só que aquela cidade era uma cidade histórica onde as paredes não poderiam ser mudadas e tem um valor cultural de respeitar as outras obras de arte, os outros artistas
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Então como a gente vai fazer isso
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Ai chegamos no meio da cidade nunca tinha ido lá, mas os poetas já conheciam e sentimos meio que a vontade
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achamos uma madeira ali,
uma outra aqui,
uma corda,
um pedaço de varal e
emendamos e
esticamos umas telas bem grandes,
desenvolvemos elas numa madeira,
como se fosse uma cruz,
uma estaca, penduramos e
saímos pra cidade
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o que é legal, que acho que eu nunca tinha ouvido é essa intervenção de grafite pela cidade, então saímos, com elas amarradas, penduradas, pela noite de Parati, com os poetas vendendo as poesias e aquilo engraçado que parecia uma procissão, um ato religioso onde as pessoas andam, mas na verdade a gente tava indo pra\falar da arte e tentar vender que esse era o objetivo que a gente não tinha muito $
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Ai fomos para a cidade paramos a noite e bem legal que nós esticamos o pano respeitando os muros, então paramos em frente a uma casa e começamos a pintar um pano e as pessoas gostavam bastante e até que começou a rolar uma atenção bacana, as pessoas perguntavam qual era o preço das obras, só que eles não tavam acostumados e infelizmente a gente só ia ficar ali naquela noite
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era uma estratégia meio suicida né, porque como você vai divulgar um trabalho e já querer vender na mesma noite, mas foi bem divertido assim, ver varias pessoas, conversar e nisso, enquanto eu e o Mauro tava tentando trabalhar, vender os trabalhos, tava o Tim de férias, bebendo os vinhos, umas bebidas e ele olhando a gente, a gente olhando ele, ele encostado numa porta, curtindo tudo que tava acontecendo se divertindo
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E o que foi legal que no final da noite não conseguimos vender nada, mas os poetas venderam e a gente tinha um pouco de dinheiro e eles venderam a poesia, então vamo beber, vamo comemorar isso, vamo festejar, então festejamo a noite, em parati e bastante, e no final vamo parar na praia, assim na areia da praia, mas e ai no final disse se demo conta que a gente não tinha lugar pra dormir, tava lá nossos trabalhos, nossos panos grandes e não tinha lugar pra dornir, entao cada um deitou na areia da praia e falou vamos dormir aqui mesmo, tinha uma fogueirinha e quando essa fogueira se apagou o que foi bonito foi que o nossos trabalhos que a gente levou pra vender, que não conseguimos vender, que eram panos enrolado acabou servindo de cobertor, então o que aconteceu na parte da manha acordamos com as nossas obras encima da gente servindo como cobertor, então foi a primeira vez que eu vi que a arte que a gente faz tem alguma importância, significativa, não só pelo valor da estética, da pintura ou pelo que ela quer dizer, mas o valor realmente humano que a nossa obra serviu para que nos encobrisse do frio
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Uma noite de mangue em parati bem diferente.. com os poetas.. poetas vivos, que vivem das suas poesias, que não tão contando histórias mas tão fazendo história e isso foi bem bacana um dia bem marcante da minha vida que eu, seilá enquanto eu tiver vivo eu não irei esquecer´e é isso ai a história toda vai indo e no final volta pro começo que é o Grajaú que era onde encontra essa galera toda da arte, não só do grafite, mas da escultura, mas da parte musical, que tamos ai não contando história, mas fazendo história.