As histórias que seguem fazem parte das intervenções realizadas no Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
17 de junho de 2008
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Prefiro que me chamem de Rebeca.
Tenho 19 anos, mas comecei cedo nesta vida, precisei.
Aos 10 anos percebi que gostava de meninos, queria usar saias... Claro não podia, que vergonha era pro meu pai! Com 14 anos, meu pai disse que até podia ser maricas, bicha, mas sem vergonha não! Para ele não dava pra eu ser menina!
Sai de casa e fui morar com uma amiga travesti, ela era feliz, tinha 20 anos e podia usar a roupa que queria, ganhava dinheiro trabalhando na rua de noite.
Assim faço minha vida, pago para que possa me vestir do jeito que quero, pago para usar de um espaço que dizem ser público, mas que não é meu, pago para realizar desejos dos outros, mesmo assim, só não posso amar quem quero!
Não falo com meus pais há cinco anos, me fazem falta, mas sou uma vergonha para eles!
Alguém disse que “sou gente e tenho direito”, mas mesmo assim não posso amar quem quero!
Quero ser gente e ter direitos, desejos e ter toda a forma de amor!
*Texto Graziela ** Intervenção com bonecos realizada no Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/
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A rua é um lugar que posso fazer o que quero,
me viciei em drogas aos 11 anos, tenho que troca favores por drogas e comida, pra dormir agente dorme em qualquer lugar mesmo...
Zé do Ponto é quem cuida da gente, o que ele marca agente vai e faz, os caras pagam pra ele, ele fica com parte da grana a outra parte fica pra mim, dá pra eu comprar comida e droga.
Viver pra mim é isso, minha mãe não cuidou de mim, alias nem dela, morreu de AIDS, não tem muita coisa pra mim nessa vida, por isso vivo assim, não sei até quando, mas vivo assim, posso morrer, mas também posso viver, quem sabe disso não sou eu...
Só sei que quem cuida de mim é seu Zé, é ele quem decide até quando posso ficar aqui, faço tudo pra que ele deixe eu ficar aqui...
Não sei o que é amor, sei o que é dor, sei que dói muito, me machuca, mas é assim que sei viver!
Pode ser de outro jeito?
*Texto Graziela ** Intervenção com bonecos no Dia Nacional contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/
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Estou com muito medo do que vai ser agora.
Estou no abrigo desde que meu pai foi preso por mexer comigo, eu tinha 13 anos. Minha mãe morreu doente, fiquei sozinha com meus irmãos e meu pai, não era bom, meu pai não é bom comigo, entendi que não é culpa minha ele estar preso.
Desde que eu brincava de não podia falar, mas meu pai gostava de brincar de boneca comigo, ele era legal, brincava horas enquanto minha mãe trabalhava, mas agente nunca podia contar pra ela o que a boneca fazia.
Me sentia mentindo pra minha mãe, queria que ela brincasse também, meu pai não deixava. Meu pai gostava de mim...
Um dia a noite depois de todo mundo dormir ele queria brincar comigo, mas eu não queria mais, a boneca estava chata, pedi para não brincarmos, eu estava com sono, foi quando minha mãe abriu a porta e meu pai bateu nela.
Ela não falou comigo, me senti mal, mas ela não falou mais com ninguém em casa, tive que vir pra cá e ela morreu. Sinto falta e queria pedir desculpas a ela.
Tô com medo de sair daqui, não quero casar, nem ter filhos, vou ser sozinha agora, não quero ninguém cuidando de mim, não vou casar, não vou ter filhos, não sei o que vou ser.
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Interior do Nordeste. Sertão Nordestino.
Vidas secas. Vida árida.
Vida de Édinho: 5 anos, 5 secas, vida de fome.
Irmão caçula de 7 filhos.
Vida de Édinho: 5 anos, 5 secas, vida de fome.
Irmão caçula de 7 filhos.
Viu três irmãs serem levadas para "uma vida melhor" na cidade grande. Nunca soube o que isso queria dizer, mas sentia o coração apertar ao dizer Adeus... Agora só haviam sobrado os "mininu", e quando a oportunidade de uma "vida melhor"voltou levou Édinho.
- Mininu novo, vai se acostumá fácil.
- Mininu novo, vai se acostumá fácil.
A mãe chorou, virou-se e engoliu a vida seca. Nunca disse Adeus. Foi assim que Édinho conheceu sequidão dos homens, vida de dor. Do ser subjugado e usado. Ser deixado como bicho, como algo que nada vale. Não entendia porque aqueles homens o machucavam tanto...
Ele nunca havia feito nada. Era uma criança, queria brincar de bola, ir a escola... Queria ser gente... Nunca o olhavam nos olhos... Por isso, aprendeu a manter a cabeça sempre baixa, os olhos no chão.
Tinha pavor dos olhos daqueles homens... Cresceu filho do medo, do desrespeito e da exploração... Cresceu cabisbaixo, objeto, utilitário...
Tinha pavor dos olhos daqueles homens... Cresceu filho do medo, do desrespeito e da exploração... Cresceu cabisbaixo, objeto, utilitário...
"Dos filhos deste solo, és mãe gentil Pátria Amada Brasil"
*Escrito por Pérola Boudakian **Texto parte da intervenção no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/
Filhos da Mãe!
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