28 de maio de 2008

Sou vida!



Washington, 17 anos. Um verdadeiro filho da mãe.
Diná: Mãe, drogada e prostituida.
Tudo começou quando Diná 05 anos.
Seu padastro entrava em seu quarto, sempre depois que todos dormiam.
Trágico era que ninguém mais via, ninguém ouvia
Seu choro baixinho, sua vergonha, seu medo.
E assim Diná achou que era isso que podia ser na vida.
Objeto de alguém. Para usar e jogar fora.
Profissão: mulher da vida.
Foi assim que chegou Washington.
Diná, 14 anos, grávida e abandonada.
Pré-natal: cocaína, bebida álcóolica e sexo.
Washington nasceu dependende.
Dependente das mazelas da vida, da droga, das ruas sujas.
Maltrapilho da cidade. Dizem que é louco, dizem que fala sozinho.
Há quem diga que é sofrido.
Todos os direitos que já botaram em lei, com ele
foram violados.
Toda vida, violada, maldita.
Jogada na sargeta.
Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida. Creio na superação das incertezas deste fim de século. O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando no fim terás o que colher. Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida, não desistir da luta.
Recomeçar na derrota. Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar’.
Cora Coralina
*Escrito por Pérola Boudakian **Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com

Sou gente!


Dona Zefa sempre trabalhou. Mulher trabalhadeira.
Não pode fazer corpo mole. Tudo começou quando ela tinha 12 anos. Trabalho em casa de família. Zefa é mulher trabalhadeira. Lava, passa, cozinha e arruma. Sempre trabalhou para os patrões brancos. Não que se importasse.
Mãos calejadas, a coluna arrebentada. Não aprendeu a ler, mas cozinha que é uma beleza. Não aprendeu a escrever, mas passa a roupa que nem só ela.
Mulher trabalhadeira.
Negra, casada com negros, filhos negros. Filhos negros violados. Parados pela polícia. Vigiados pela policia. Violados pela policia, mas Zefa, mulher trabalhadeira, abaixa a cabeça e pede a Deus que no caminho da escola para casa seu filho não se entregue ao tráfico para fugir da polícia. Enquanto lava, passa e adorna, ora baixinho para seu filho, negro, nao ser humilhado, não ser parado. Ele precisa crescer, precisa ser um negro trabalhador, filho da mãe, filho da mãe trabalhadora. Mulher e negra.
Quem segurava com força a chibata agora usa farda, engatilha a macaca, escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista, pra passar na revista. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Marcelo Yuka
*Escrito por Pérola Boudakian **Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/

Sou mulher!

"Todo dia ela acorda e faz tudo igual. Me sacode às seis horas da manhã. Me sorri um sorriso pontual..."
Chico Buarque
Todos os dias a mãe de José, Dona Maria, levanta às 4h30 da manhã, põe café e pão para seu companheiro, um perfume baratinho no pescoço, beija os 4 filhos na cama e vai trabalhar.
Dois ônibus, três horas, trânsito, aperto e angústia no peito. A angústia tem nome: José da Silva. Seu filho. Sem paradeiro, sem volta. Amaldiçoado pela droga, nem suas orações o trouxeram de volta.
José é um filho da mãe, mãe - sofrimento. Mãe dor. Dor de imaginar seu filho perdido na cidade, numa calçada qualquer, sujo e ignorado.
Violado. Direitos violados.
Vidas violadas. Vida de mãe e de filho.

E assim, Dona Maria, segue, ...

"Todo dia ela faz tudo sempre igual..."
*Escrito por Pérola Boudakian ***Parte da Intervenção com bonecos realizada pelo CEDECA Interlagos na Marcha das Mulheres - 2008 - http://sougentetenhodireitos.blogspot.com/